Sangue, elemento jurídico-religioso
Gênesis ou Bereshit 9:4
Em domingo, 14 de janeiro de 2024.
Shevat, 5784.
A formação do ser humano ['ādām-אדם] se deu desde a vontade do verdadeiro Elohim ou Deus Jehovah [יהוה] em reunir elementos do solo para modelar um corpo. Ao insuflar-lhe a energia para dar-lhe a vida, O tornou alma vivente [nefesh chaiah-תיה נפש]. Assim, o humano teve ativa a sua circulação do sangue [dam-דם], que passou a transportar o oxigênio (O2). O sangue em atividade passa a se tornar o princípio ativo da vida orgânica do humano. Com isto, pois, ele passou a ser alguém que respira.
O vocábulo 'ādām no relato inicial da criação humana, não o qualifica como alguém com gênero. O primeiro humano não era um andrógino; não tinha uma identidade masculina ou feminina que pudesse definir seu sexo. A estruturação etimológica da raiz do vocábulo 'ādām [אדם] denota: “Homem”, “ser humano”, “indivíduo ou alguém”, “humanidade”, o nome próprio “Adão”, “quem, aquele que”, “gente”. De acordo com o Dicionário Nova Vida, ׳ādām denota, Homem, espécie humana, humano, alguém, Adão (o 1º homem). 'Ādām não caracteriza ׳ish-איש, homem do sexo masculino.
O vocábulo 'ādām possivelmente é uma derivação de ׳dm, vermelho, que nas línguas ugarítica e fenícia significa “ser humano”. Já no idioma aramaico, 'ādām diz respeito ao sangue, e 'ādāmâ [אדמה] significa “terra”, “solo”, “terra dada ao homem”, ou “pó da terra”. Na Bíblia Hebraica, o nome 'ādām indica o ser humano formado da terra ('ādāmâ). 'Ādāmâ, significando terra, solo, chão; possivelmente em razão do tom avermelhado do solo. Vê-se, pois, a alta conexão que a Bíblia faz entre homem ('ādām) e a terra ('ādāmâ). Sendo, pois, tanto o ser humano individual ou a humanidade, assim como toda a Terra com todos os seus continentes e águas, e o seu complexo conteúdo material, biológico etecétera, propriedades do Único Elohim ou Deus Jehovah [יהוה].
Um primeiro comando para controlar a consciência humana a respeito do sangue [dam-דם], foi dito pelo único Elohim ou Deus Jehovah a Noé. No TANAH, em Gênesis ou Bereshit 9:4 há a decisão assim: Porém, a carne com sua alma estando com vida e seu sangue, não comereis. E na Septuaginta (LXX) em português assim: Somente a carne com o sangue da vida não devereis comer. E na Bíblia de Jerusalém assim: Mas não comereis a carne com sua alma, isto é, o sangue.
Conforme dicionários bíblicos, sangue (dam) é um elemento sagrado que representa a vida que se possui como alma ou a sua fonte de vida. Pois, é através da circulação sanguínea que são distribuídos, exempli gratia, o oxigênio (O2) e os nutrientes às células do corpo. Sem o funcionamento da circulação sanguínea, a vida deixa de continuar e consequentemente o organismo falece. Retirar o sangue do corpo, implica em reduzir a vida que nele há. E retirar o sangue da carne do animal morto e próprio para o consumo humano, é lícito.
De notar-se, pois, que a injunção proibitiva de comer ou ingerir sangue é promulgada pelo Eterno, e está fixada para a humanidade desde a era Noé. Esta válida injunção cogente diz respeito à concessão ou ao facultamento para se consumir ou ingerir carne animal como alimento para sustentar o corpo. Foi promulgada para todos os descendentes da família humana de Noé.
Isto posto, com máxima vênia, depreende-se que: i) A carne do animal não pode ser comida enquanto ele estiver vivo, isto é, com a circulação sanguínea em funcionamento; ii) A carne concedida ao consumo humano é tão somente a de animal, e que o animal próprio para a alimentação precisa estar vivo para, a posteriori, vir a ser intencionalmente morto (É preciso ter a certeza de que o animal está vivo, e que após o abate ele está totalmente sem vida para que a sua carne seja própria ao consumo humano); iii) O sangue precisa necessariamente ser extraído da carne a ser consumida; iv) Em hipótese alguma o sangue pode ser separado ou reservado para uma ingestão posterior, seja in natura ou misturado; v) Não é de pleno direito matar um animal para servir-lhe de alimento; vi) É necessário que o animal tenha sido devidamente sangrado e a carne limpa do sangue, para que se possa ser alimento kosher e pronta para consumi-la.
Ad conclusam, de notar-se, pois, que a concessão ou o facultamento para a ingestão de carne restringe-se tão somente a carne de animal, próprio e morto para o consumo. Que a carne precisa ser bem limpa, retirando-se todo o sangue. Que o sangue representa a inteira vida que se possui como alma vivente. Que a vida, o corpo e o sangue são propriedades do Único e Eterno Elohim ou Deus Jehovah [יהוה]. E que a injunção proibitiva de introduzir sangue no organismo provém do Eterno desde a era Noé.
Portanto, com máxima vênia, conclui-se acertadamente que a lógica decisória para a abstenção do sangue humano (Atos 15) está diretamente relacionada a não permissão do uso da carne humana para a sustentação da vida de um ser humano. Não sendo concedido ou facultado ao humano se alimentar da carne de outro ser humano, isto é, fazer ingestão da carne humana, decerto que o sangue humano é impróprio para ser introduzido no organismo humano. Não se pode manipular o sangue animal para ingestão, assim é, pois, também com o sangue humano. Há um total e absoluto impedimento para a manipulação do sangue humano tanto na gastronomia como em toda e para qualquer terapia.
Hubner, Manu Marcus. Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG. Belo Horizonte, v. 10, n. 19, nov. 2016. ISSN: 1982-3053.
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1998.
Sangue, elemento jurídico-religioso
Levítico ou Vaicrá 3:17
Em domingo, 28 de janeiro de 2024.
Shevat, 5784.
Estatuto perpétuo será para as vossas gerações em todas as vossas moradas: nenhum sebo e nenhum sangue comereis.
TANAH ou Bíblia Hebraica
Estatuto perpétuo é pelas vossas gerações, em todas as vossas habitações: nenhuma gordura nem sangue algum, comereis.
Bíblia Sagrada Corrigida e Fiel
É uma lei perene para vós de geração em geração, onde quer que habiteis: tudo o que é gordura e tudo o que é sangue, não comereis.
Bíblia Tradução Ecumênica
Os exemplos de traduções encimados acerca da declaração de vontade do Eterno e Único Elohim ou Deus Jehovah [הוה'], dão a clareza da compreensão finalística acerca do sangue.
As mais fiéis traduções para este versículo da Torá, explicam que nenhum ou algum [cujo sentido lexical abrange: (nem um; coisa indeterminada; qualquer; nem sequer um – Minidicionário da Língua Portuguesa, Evanildo Bechara)] sangue, não deve ser consumido ou introduzido no organismo. A construção injuntiva esclarece que: o todo, todo, qualquer, tipo ou espécie de sangue está proibido para o uso do ser humano como fonte de sustentação quando sai do corpo. O sangue animal ou humano, com vênia, é impróprio à ingestão ou à introdução no corpo, seja por qual via ou método que for; seja em sua totalidade ou fracionado. Legem Habemus
De notar-se, pois, que no texto hebraico a construção semântica para o sangue (דם) está unida com maqqef ( ־ ). O maqqef é um traço semelhante ao hífen, cuja função é juntar palavras a fim de dar-lhes uma união de sentido. Em וכל־דם, a injunção da Torá demonstra a ênfase de que todo e qualquer tipo ou espécie de sangue (animal e humano) está incluído na declaração de vontade do Autor. Tanto o sebo (gordura) quanto o sangue, total ou fracionado, são propriedades do Eterno e Único Elohim ou Deus Jehovah [הוה']; e é Ele quem manda, ab initio, que em tempo ou lugar nenhum, o sangue animal ou humano não pode ser utilizado como fonte de vida ao sair do corpo.
Sangue, elemento jurídico-religioso
Atos 15: 19 ao 21, 28 e 29
19 διὸ ἐγὼ κρίνω µὴ παρενοχλεῖν τοῖς ἀπὸ τῶν ἐθνῶν ἐπιστρέφουσιν ἐπὶ τὸν θεόν, 20 ἀλλὰ ἐπιστεῖλαι αὐτοῖς τοῦ ἀπέχεσθαι τῶν ἀλισγηµάτων τῶν εἰδώλων καὶ τῆς πορνείας καὶ τοῦ πνικτοῦ καὶ τοῦ αἵµατος· 21 Μωϋσῆς γὰρ ἐκ γενεῶν ἀρχαίων κατὰ πόλιν τοὺς κηρύσσοντας αὐτὸν ἔχει ἐν ταῖς συναγωγαῖς κατὰ πᾶν σάββατον ἀναγινωσκόµενος. 28 ἔδοξεν γὰρ τῷ πνεύµατι τῷ ἁγίῳ καὶ ἡµῖν µηδὲν πλέον ἐπιτίθεσθαι ὑµῖν βάρος πλὴν τούτων τῶν ἐπάναγκες, 29 ἀπέχεσθαι εἰδωλοθύτων καὶ αἵµατος καὶ πνικτῶν καὶ πορνείας· ἐξ ὧν διατηροῦντες ἑαυτοὺς εὖ πράξετε. Ἔρρωσθε.
Textus secundum III. editionem UBS, omnino cum XXVI. et XXVII. editionibus Novi Testamenti Graece, Nestle et Aland editoribus, concors, praeter minutias interpunctionis.
19) Portanto, julgo que não se deve constranger aqueles que dentre os gentios se convertem a Deus, 20) todavia, escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da imoralidade, da carne de animais sufocados e do sangue. 21) Porque desde os tempos antigos, Moisés é pregado em todas as cidades, bem como é lido nas sinagogas em todos os dias de sábado”. 28) Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destes preceitos necessários: 29) Que vos abstenhais de alimentos sacrificados aos ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual. Fareis muito bem se vos guardardes desses procedimentos, pois desejamos que tudo de bom vos aconteça”.BÍBLIA SAGRADA VERSÃO: KING JAMES ATUALIZADA (KJA)
Conforme os trechos encimados, está claro que a leitura da Torah permanece no Novo Contrato [Berit Hadashah] aos casos especificados para os gentios (goyim). Em tela a questão do sangue, que na evidente leitura da Torah injunge derramá-lo na terra e cobri-lo com pó, isto é, inutiliza-lo ao sair do corpo. Na leitura compreende-se ab initio que tanto o sangue animal quanto o humano estão inseridos no texto e no contexto. Tanto o sangue in natura e o fracionado são elementos jurídicos-religiosos da Torah. De notar-se, pois, que a decisum dos emissários de Jesus [Yeshua’ ha Mashiach] foi corroborada pela ação da força ativa [ruach hakodesh] do Elohim ou Deus Jehovah. Legem Habemus
Isto posto, com superiora vênia, a legalidade e a legitimidade para se julgar ou se decidir quanto ao uso do sangue, animal ou humano, próprio ou alheio, total ou fracionado, tem que estar necessariamente no rigor da prolação da decisão contida em Atos 15. A Bíblia conquanto literatura, é um documento normativo para a humanidade. De notar-se, pois, que ela não ficou sob a restrição de um povo, porém, foi primeiramente traduzida para o grego [LXX] e se acha hoje em vários idiomas e dialetos. A administração da justiça (estadual ou paralela) tem que considerar que nos documentos internos da Bíblia constam as declarações de vontade de um Soberano e que a liberdade e livre determinação dos povos está no cumprimento delas. Muito mais onde há a asserção da Bíblia como Obra.
Não há ilícito no cumprimento da Torah onde há a abstenção do sangue.